Renan Vicente da Silva
Apelo à Política de Vida do Povo Barrense
Atualizado: 3 de nov. de 2021

É com enorme tristeza que critico a postura da prefeitura de Barra do Piraí de instaurar uma possibilidade de isolamento vertical. Nesse isolamento seletivo apenas as pessoas idosas e com doenças crônicas iriam ficar isoladas, assim as outras iriam contrair o novo coronavírus para desenvolver uma possível memória imunológica. Contudo, essa medida não apresenta uma compreensão exata de evidência científica da constituição desse processo de imunização coletivo, pois pode existir casos de reinfecção. Além disso, como ficariam as pessoas isoladas? Elas dependem de outras pessoas para seus cuidados. Quem seriam essas pessoas que forneceriam os cuidados? Quero saber se a prefeitura de Barra do Piraí possui noção da quantidade de idosos e pessoas com doenças crônicas existentes na cidade. Existe a dimensionalidade dessa população? É importante termos ciência que esse tipo de isolamento sugerido pela prefeitura é muito palatável na teoria, porém, muito difícil de ter uma aplicabilidade prática. Sendo evidente na comunicação do prefeito, Mário Esteves, nas redes sociais. Não existe viabilidade nas frágeis e perversas condutas de marginalização social de uma considerável parcela de nossa sociedade.
Essa medida é fortemente suscitada após as declarações em cadeia nacional de TV e rádio do presidente da República Federativa, Jair Bolsonaro, e algumas falas do prefeito da cidade do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella. Essa linha de políticos protagonizam uma perspectiva de flexibilização das ferramentas de contenção da transmissão do novo coranavírus. Sendo mais acentuada no pronunciamento delirante do presidente da República. Isso de certa forma fornece uma legitimação que contamina toda uma evidencia científica de que a contenção e isolamento horizontal são medidas essenciais para evitar uma rápida e cruel ascendência da curva de casos. O que levaria a um colapso sem precedências do Sistema Único de Saúde (SUS) municipal. E haveria a morte de muitas pessoas que chegariam ao mesmo tempo nos serviços hospitalares que não comportariam essa demanda. As mortes seriam consequência direta da irresponsabilidade de nossa liderança municipal. Não podemos priorizar a economia em detrimento da vida. Devemos ser solidários. Devemos cuidar da nossa população. Devemos acolher nossa população. Essa dor coletiva da morte será sentida em todes nós. É uma responsabilidade coletiva.
Para piorar esse contexto o prefeito ao invés de discutir essas questões com seu gabinete de crise conjuntamente com as autoridades sanitárias. Resolveu realizar uma enquete nas redes sociais para “ouvir” a população. Em uma forma doentia de plebiscito. O que a população acha de prendermos os idosos e pessoas com doenças crônicas em prol dos empregos e manutenção da máquina pública municipal? É muito irresponsável esse questionamento para deslocar essa responsabilidade de exercer seu poder enquanto chefe do executivo para a população. Acredito que isso decorre de seu medo em tomar uma decisão que irá provocar mortes. Reforço que a responsabilidade é coletiva. Não pode culpabilizar a população sem fornecer informações sobre a crueldade que envolve esse isolamento vertical. Essa amistosa abertura gradual que matará exponencialmente nossa sociedade barrense. O apelo que faço é seguir o caminho do cuidado. Do carinho. Do encontro com o outro. Da solidariedade. Continue seguindo as recomendações preconizadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e as entidades científicas que comprovam em vários estudos que a contenção da cidade junto com o distanciamento social (isolamento horizontal) promove ao longo do tempo uma redução da transmissão. Iremos viver uma recessão econômica, mas vidas serão salvas. O dinheiro não substitui vidas.
Além disso, recomendo que o prefeito ao invés de ficar realizando plebiscito nas redes sociais encontre caminhos possíveis para aumentar a cobertura da proteção social. Reduza os benefícios e salários que o senhor e seu secretariado recebem. Não fique apenas narrando uma falta dinheiro que parece crônico em nossos cofres públicos. Os mais pobres sofrem e sofrerão mais. E não adianta reafirmar seu discurso de flexibilização do isolamento para evitar demissões em massa. Faça o contrário. Proteja o povo Barrense. Trabalhe na construção de um caminho possível. Quais são suas condutas para proteção social dos mais pobres?
Por fim, agradeço pelo carinho da leitura de todes. As palavras ainda são uma forma de expressão democrática. As palavras habitam meu corpo e sempre expressarão minha indignação diante de comportamentos delirantes. Usarei essas palavras enquanto voz. Um afetuoso abraSUS e seja sensível. Apenas o amor, união e solidariedade promoverão o nascimento de uma outra sociedade depois dessa pandemia.
Barra do Piraí, 27 de março de 2020